Presidente nunca teve relação próxima com ministro, mas situação se agravou
Até então restrita a movimentos de bastidores e divergências públicas sobre a melhor forma de enfrentar a crise sanitária, a má relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ficou exposta com os ataques pessoais do chefe ao subordinado na quinta-feira, quando Bolsonaro afirmou que “falta humildade” ao auxiliar e acrescentou que “nenhum ministro é indemissível”.
— Olha, o Mandetta já sabe que a gente esta se bicando há algum tempo. Não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Em algum momento, ele extrapolou. Respeitei todos os ministros, ele também. A gente espera que ele dê conta do recado. Tenho falado com ele. Ele está numa situação meio… Se ele se sair bem, sem problema. Nenhum ministro meu é indemissível — disse Bolsonaro, em entrevista a rádio Jovem Pan.
O presidente tem se irritado com o que classifica de postura arrogante do auxiliar. A avaliação de parte do governo é a de Mandetta estaria trabalhando para consolidar a imagem de que ele é “um técnico lutando contra posições ignorantes” de Bolsonaro.
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Pessoas que acompanham o dia a dia do governo dizem que Bolsonaro e Mandetta nunca tiveram uma relação próxima, mas que a postura de enfrentamento permanente do ministro acabou por implodir a ponte entre os dois. A situação teria se agravado mais depois que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), de quem Mandetta é muito próximo, anunciou rompimento com o presidente.
Para colegas de Esplanada dos Ministérios, as declarações do presidente à rádio Jovem Pan sinalizam que a saída do comandante da Saúde do governo é questão de tempo. Pessoas próximas ao ministro já previam uma escalada dos conflitos com o mandatário do Palácio do Planalto, mas vinham pedindo “cautela” e que o ministro resistisse no cargo.
Agora, no entanto, a situação mudou. Mandetta, segundo aliados, não tem tido habilidade suficiente para lidar com o chefe, tornando a relação insustentável. Integrantes do governo dizem que o ministro da Saúde, ao insistir em confrontar Bolsonaro o tempo todo, estaria forçando sua demissão.
O ministro, porém, tem defensores importantes. Na noite de quinta-feira, após a repercussão das críticas de Bolsonaro, o titular da Justiça, Sergio Moro, reafirmou em uma rede social, a sua defesa do “isolamento e da quarentena”, posições adotadas por Mandette e das quais Bolsonaro diverge reiteradamente.
No Congresso, o líder do DEM na Câmara dos Deputados, Efraim Filho (PB), divulgou nota para afirmar que o partido dará “apoio total, absoluto e irrestrito” ao ministro. Na nota, Efraim afirma que “Mandetta tem sido um herói”, que com “explicações técnicas, embasadas na ciência, conquistou o respeito e a confiança das famílias brasileiras”.
Com informações o Globo